quinta-feira, 6 de maio de 2010

Final Alternativo

Gostaria que vocês lessem o final alternativo que a Natália, aluna do 2º Ano B, escreveu para o romance de Edney Silvestre, Se eu fechar os olhos agora. O texto revela um pouco a tristeza de alguns leitores com a morte de um personagem querido. Gostaríamos que fosse diferente. Na verdade, muito do que é narrado no romance, muitas verdades ali travestidas de ficção gostaríamos que não existissem, gostaríamos de fechar os olhos para elas (e muitas vezes fechamos, não por omissão ou indiferença, mas tamanha a dor que elas nos causam). Bom, leiam o texto da Natália, que, aliás, escreve muito bem.


"Final Alternativo - Se eu fechar os olhos agora

'Cecília recuou e disparou a última bala'.

Ubiratan pedalou de volta ao hotel com a imagem perturbando-lhe a mente. Em momento algum quisera que mais duas pessoas morressem. Sem saber a verdade. Pedalava o mais lento que podia a bicicleta de Eduardo, adiando o momento que teria de contar-lhes toda a verdade. As atrocidades do mundo adulto não deveriam ser tão exploradas por crianças. Não queria imaginar o que poderia acontecer depois que soubessem tudo o que acontecera com Anita. E Renato. E todas as outras pessoas envolvidas nesse mistério que não parecia ter fim. O caminho de volta foi propositalmente mais demorado que o de ida. Apesar do medo de enfrentar a verdade, já tinha decidido não esconder mais nada. Segredos assim só causavam dor atrás de dor.

Paulo encontrava-se em alto estado de euforia. Batia os pés ao chão no ritmo de alguma música que ouviu pela rua. Odiava desconhecer as coisas, e odiava o Velho por ter privado-lhe de informações importantes. Ele e Eduardo haviam achado o corpo. Não era justo o mistério ser desvendado sem que soubessem. Eram os principais. Tão importantes quanto os presidentes que estudara em história. Mesmo assim, sentia que jamais saberia de nada. No caso, se não o soubesse, haveria uma dúvida eterna em sua mente. Haveria uma prostituta sem um seio, injuriada por não ter descoberto tudo, que lhe daria o braço ao lado de uma mulher quando fosse se casar. Olharia os olhos de seu filho quando o tivesse. Não estava pronto para conviver com isso. Não podia sequer imaginar como passaria o resto da vida sendo assombrado por uma mulher que deveria ter permanecido onde estava. Os mortos eram enterrados por isso. Para não assombrarem mais a vida de quem se importou com eles. No entanto, pegavam um braço inteiro quando lhe ofereciam as mãos, desenterravam-se e permaneciam na lembrança de quem os importunou.

O outro garoto apenas observava tudo ao seu redor. Os pés do amigo batendo o chão de madeira, o vento frio que batia na janela. Lembrou-se que, se Ubiratan não voltasse com sua bicicleta, arranjaria uma confusão em casa. Viu que Paulo estava com raiva. Ele não, estava apenas magoado. Confiara em Ubiratan. Aceitou-o em sua investigação tão preciosa, pediu sua ajuda e depositou tudo o que podia. Acabou trancado em um quarto de bordel sem saber o que acontecia. Não era o fim que esperava para a história. Não queria permanecer sem saber o que aconteceu com Anita, quem era Renato, e o que fizera. Imaginou como seria sua vida se não tivesse suas respostas. Alguma Anita sangrenta apareceria em seus sonhos. A idéia era aterrorizante. Só queria terminar a escola e seguir a profissão dos seus sonhos. Só precisava saber o fim, aí estaria tudo certo.

Na manhã do dia seguinte, Ubiratan já havia explicado toda a história. Até mesmo os detalhes sórdidos, não achava justo privá-los de qualquer coisa. Ao contrário do que esperava, não provocou um choque tão grande nos meninos. Paulo havia dito:

- Esse é um tipo de coisas que meu irmão diz que faz.

Estavam a caminho do lago. Os três juntos, sem nenhum tipo de raiva ou rancor ou até mesmo mágoa. Estava tudo resolvido. Anita foi morta por Renato, seu próprio irmão. Agora podia descansar em paz sem assombrar o futuro de nenhum deles. Paulo não tinha mais medo. Eduardo não tinha mais duvidas. Ubiratan sentia-se útil,depois de tanto tempo. Caminhavam em silêncio. Um silêncio cômodo. Palavra alguma poderia representar a pontinha avassaladora de orgulho que sentiam no fundo. Haviam resolvido um crime! Um velho e duas crianças. Ninguém esperava nada deles. Os passos eram leves, não havia mais nada sobre as costas.

Ao chegarem ao local onde antes estava o lago, sentiram o cheiro agridoce ao mesmo tempo. Os sentidos aguçaram-se. As pupilas dilataram-se. O medo voltou a assombrar-lhes a lembrança. Ao chão, jazia outra mulher. Desta vez com o peito esquerdo brutalmente arrancado. Paulo quis chorar. Eduardo quis correr. Ubiratan acreditou que era só um pesadelo. O rosto dessa vez estava coberto por um pano que um dia fora branco. No momento, era vermelho como o sangue que impregnava todos os lados. Em um lapso de coragem, Eduardo tirou o pano do rosto da mulher. Teve vontade de morrer quando viu Hanna, outra prostituta, com uma expressão distorcida e cheia de dor. Nem se fechassem os olhos agora, poderiam apagar a imagem que acompanhou-lhes pelo resto da vida. De novo. Não poderiam tirar aquele odor ferruginoso de suas lembranças. Poderiam fechar os olhos pela vida inteira. Nada jamais tiraria Anita, e agora Hanna, de seus pensamentos".

10 comentários:

  1. Adorei o final da Natália, a escrita, os detalhes, tudo! Mas de qualquer forma, uma nova angústia surgiu. Resolveu-se uma, surgiu outra, voltou a primeira à tona; tendo agora duas.
    Então, vendo de um modo pessimista, a vida é feita de angústia, dor e despesares? Acho que sim...

    Mariana Leite - 2º ano A

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  2. :O

    Muito bom!
    Não li o livro(ainda)mas até deu vontade.
    Construção bem estruturada e criativa.
    Escreve bem,parabéns!

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  3. Nossa , impressionante!
    Muito bom esse final alternativo que a Natália escreveu , gostei muito!
    E acho que ela optou pelo final que todos esperavam.
    Muito bom , de verdade.
    Parabéns.


    Jean Gonçalves - 2º ano A

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  4. O final alternativo de Natália é muito mais simpático que o original, acho que no fundo todos esperavam algo semelhante ao término do livro.
    Ainda há introdução de uma nova personagem, Hanna, que retorna a angústia das personagens e abre portas a um novo mistério a ser desvendado!

    Yuri Soares - 2º ano A

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  5. Muito bom esse final alternativo da aluna Natália, a escrita está perfeita, porem, as vezes um final tragico é mais interessante pois quebra a rotina do final feliz que 90% das obras tem.


    Lucas Rocha - 2º Ano A

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  6. O final da Natália é muito bom mesmo, Parabéns; a forma como ela escreve é perfeita..
    Como todos disseram acima, esse final alternativo é o que muitos leitores gostariam. Os meninos e o velho sairam como grandes heróis do romance e não foram desvalorizados como na história original.
    Mas, uma das características principais do livro é a dúvida, e ela se mantem até o fim, pelo fato de ficarmos curiosos e quase certos sobre o assasino de Hanna.

    Laura Ignacio - 2° ano A

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  7. O final da Natália é bom mesmo. Acho que apesar de ter colocado os meninos e o velho como heróis, surgiu outras dúvidas, novos detalhes.

    Elisa Gambôa - 2º ano A

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  8. Nossa, a Natália escreve muito bem.
    O final alternativo dela, foi ótimo. Os meninos após tantas buscas deveriam sair realmente como heróis.

    Adeilson Ribeiro - 2° ano A

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  9. Ao acompanhar todo o livro, e sentindo na pele todos os dramas vivido pelos personagens graças às minuciosidades descritas por Edney em cada cena, nós leitores, esperamos cada vez mais o final que os personagens merecem, e nesse caso, tivemos o final que esperávamos, mas também, tivemos uma descoberta inesperada, diferenciando-o do clichê ''final feliz''.

    Hugo Fernandes Costa - 2º ano A

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  10. Esse final alternativo da Natália foi uma ótima opção. Foi ao mesmo tempo, um final surpreendente e interessante, deixando as pessoas com novos sustos e novas dúvidas sobre o livro. Um livro onde a cada capítulo surgia um suspense aos leitores.

    Rafaela Fiorelli Caiaffa 2º ano A

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