segunda-feira, 26 de abril de 2010

Desencanto

Hoje quero deixar aqui um texto que li recentemente e gostei muito. É de uma ex-aluna minha e do colégio: a Júlia Pessôa. Ela é jornalista, formada pela UFJF, e escreve para uma coluna do site Bafafáetc. Confiram! O texto é muito bonito e faz a gente pensar.

Desencanto
23/03/2010, por JÚLIA PESSÔA

Houve um tempo em que éramos baixos demais para alcançar o interruptor e tínhamos medo do escuro. Hoje já não tememos, e embora sejamos altos o suficiente para acender a luz, vivemos cabisbaixos e na escuridão. Neste mesmo tempo de outrora, nossas metáforas eram mais bonitas, e falavam de coisas comuns. Agora o comum endurece as metáforas e o que era para ser bonito torna-se exagerado, réplica de mau gosto de si mesmo.

Tempos atrás, estávamos cercados de amigos, o tempo todo. Hoje em dia temos cada vez menos amigos de verdade, e os vemos com uma freqüência que diminui a cada encontro. Bom mesmo era o tempo em que culpa era algo que sentíamos por quebrar alguma coisa ou roubar uns trocados da carteira de nossas mães. A culpa que carregamos hoje é um fardo muito mais pesado: por nossas dependências, nossas omissões, nossa incapacidade de sermos quem as pessoas que amamos gostariam que fôssemos.

Que saudade de quando tínhamos certeza do que seríamos quando crescêssemos, e essas possibilidades eram infinitas! Agora somos o que somos e vivemos nos perguntando o que poderíamos ter sido. “E já é tarde demais para sermos qualquer outra coisa”, pensamos. Teve aquela época em que amar era só escrever duas iniciais num coração flechado. Embora amar ainda seja uma das melhores coisas da vida, hoje sabemos que é preciso muito mais do que colocar letras lado a lado para sermos “felizes”, e esperamos, com tudo que resta de nossa fé, que seja “para sempre”.

Em outras épocas, nossos pais eram heróis. Imortais e inabaláveis. Depois que crescemos, aprendemos que o colesterol e os anos são implacáveis; e que muitas lágrimas caíram em silêncio, porque éramos crianças demais saber que elas existiam. Ainda me lembro de quando “preocupação” podia ser traduzido como “prova de Física”, “prova de Geometria” ou prova de qualquer coisa que a gente soubesse menos do que devia. Ultimamente temos contas, temos filhos, temos hora, temos prazos... e não temos mais segunda chamada.

Houve um tempo em que achávamos saber tudo da vida. Hoje em dia, continuamos carregando esta arrogância e posamos de donos da verdade, publicamos nossas audaciosas certezas em colunas virtuais. Ignoramos que a verdade é dona de si mesma, e a única coisa que ela nos diz...é que ainda temos muito a aprender.

5 comentários:

  1. Parabéns Samira,amei o seu blog sempre gostei muito de ler mais com a chegada das crianças não tenho tempo se quer para ler revista e foi através do blog do sítio bom pastor que encontrei o seu blog.Confesso que matei minha sede de leitura obrigada que Deus te abençoe.

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  2. Bastante reflexivo esse texto.
    gostei muito, e o mesmo também fez que eu parasse pra pensar.

    Jean Gonçalves 2º ano A

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  3. Muito bem escrito, esse texto nos faz perceber algumas verdades que muita vezes tentamos ignorar ou esquecer e nos lembra que não podemos fazer isso, para evitar arrependimentos futuros.

    Yuri Soares - 2ºano A

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  4. Samira, esse texto é realmente maravilhoso! Aliáis, a Júlia é ótima mesmo! Não tinha lido ainda um texto dela, e com certeza recomendo que você ponha outros no blog...realmente, com o tempo amadurecemos, aprendemos tantas coisas e vemos o que realmente tem importância na nossa vida..Parabéns por conseguir colocar no papel o que todos nós sentimos um dia, mas não sabemos bem como expressar. Beijos, Lara Junqueira - 2º "A"

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  5. "Ignoramos que a verdade é dona de si mesma, e a única coisa que ela nos diz...é que ainda temos muito a aprender."
    o texto é maravilhoso, nos faz repensar algumas coisas!
    muito bem escrito, e real. adorei essa última frase. parabéns à julia, que tenha sucesso!!!
    beijos, Daiane Dias 2º ano A

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